Estive Lá – Patagônia Argentina Atlâtica

novembro 28, 2012 in Estive Lá, Todos os Posts

Por Natália Viana.

Vasto território repleto de contrastes, onde a aventura representa o principal dos pontos cardeais, a Patagônia é uma terra cheia de mistérios, dotada de uma natureza singular capaz de seduzir todo aquele que se aproximar desta planície aparentemente fria e monótona.

A imensidão dos horizontes desta fascinante região no rodapé do mundo deslumbra pela tão contundente demonstração da insignificância do ser humano diante da sublime grandeza da natureza, encontrada aqui em um de seus mais imaculados e desoladores estados. Talvez exatamente por isso, partes dela tenham se transformaram em verdadeiros santuários faunísticos, como é o caso da Patagônia Argentina Atlântica. Estive lá e vim contar para vocês as minhas impressões dessa incrível viagem:

Após alguns imprevistos – atraso de voo, uma noite não planejada em Buenos Aires e extravio de bagagem – eu cheguei, um pouco depois do esperado, em Trelew e logo em seguida me dirigi à Puerto Madryn, cidade escolhida para me hospedar durante minha expedição pelo litoral patagônico.

Dica: já considere no seu roteiro pernoitar em Buenos Aires na ida, pois o tempo de conexão entre os voos é bem apertado, o que significa que qualquer atraso no primeiro pode fazer com que você perca o segundo e tenha que esperar para reembarcar só no dia seguinte. Bem que já tinham me aconselhado! (Por que não dei ouvidos? Paguei pela minha teimosia, rs)

Situada frente às águas azuis da baía Golfo Nuevo, no nordeste da província de Chubut, esta cidade de pouco mais de 80 mil habitantes, clima quase desértico, dias ensolarados e noites frescas, parece-se com um agradável resort de verão, desenvolvido ao redor de um charmoso bulevar costeiro.

A cidade conta com diversas opções de acomodação, sendo que os melhores hotéis encontram-se em frente à praia, próximos ao centro turístico-comercial. As especialidades gastronômicas de Madryn são marisco, peixe e cordeiro – servidos em bons restaurantes. Já os restaurantes mais em conta são os que dispõem de menus turísticos e cozinha internacional, servindo um prato principal e acompanhamentos, além de sanduíches, pizzas, massas, saladas e até comida chinesa. Há inúmeras e irresistíveis docerias e casas de chá que oferecem especialidades da região, como os famosos alfajores e a deliciosa torta galesa, espécie de bolo recheado com nozes e frutas cristalizadas, trazida do País de Gales no século XIX.

Em Madryn, me senti envolta por uma atmosfera tranquila e relaxante, onde os fortes ventos pareciam transformar-se em música e o silêncio ser quebrado pelo canto dos pássaros. Seu extenso bulevar costeiro, suas largas ruas asfaltadas e sua cuidadosa arborização, convertem Puerto Madryn em uma charmosa cidade onde vale dar uma parada. Entre um passeio e outro, uma boa pedida é alugar uma bicicleta, explorar seus arredores, visitar seus poucos museus e percorrer a Costanera para observar as instalações do porto, a graciosa arquitetura das casas e seus bem cuidados jardins, não esquecendo de deliciar-se com um típico chá galês em homenagem aos colonizadores da região. Quem tiver mais tempo pode aproveitar para fazer um mergulho, afinal, devido às suas águas calmas e profundas, somadas à sua variada fauna, a cidade é considerada “capital argentina de atividades subaquáticas”.

Mas o que realmente atrai os visitantes à Madryn é o desejo de explorar os seus arredores. Assim o fiz.

Como eu já tinha perdido um dia na viagem tendo que pernoitar em Buenos Aires, logo no primeiro dia, juntei-me a uma turma e fizemos um passeio à Punta Tombo, ansiosos para conhecer a maior colônia continental de pinguins do mundo.

Seguindo ao sul, após intermináveis 180 km percorridos com lentidão em meio a uma estrada irregular rodeada por uma paisagem remota – onde, vez ou outra, éramos surpreendidos por um bando de guanacos que apareciam para quebrar a monotonia –, chegamos finalmente à pinguinera. Após pagarmos o ingresso de entrada, enquanto nos dirigíamos ao estacionamento, já fomos surpreendidos por alguns pinguins curiosos que paravam em frente ao carro e ficavam indecisos entre ir ou voltar.

Não se pode tocar nos pinguins, falar alto ou correr. Há trilhas delimitadas, cujos limites são, com conscientização, respeitados pelos visitantes – embora ignorados por esses animais de andar peculiar, ao mesmo tempo divertido e elegante – que parecem acostumados à presença humana, circulando por todas as partes, não se intimidando nem mesmo com os flashes das câmeras.

Quando nos aproximamos da costa, a visão que tivemos foi surreal: mais de 400 mil pinguins, divididos entre refrescar-se na praia e cuidar de seus filhotes que começavam a sair dos ninhos feitos em baixo dos arbustos espalhados pelo caminho. Aproximar-nos destas criaturas encantadoras e cheias de gingado, em meio à sua cacofonia de zunidos e tentativas de nos bicar, foi uma experiência extraordinária, da qual jamais esqueceremos.

No dia seguinte, eu e a mesma turma seguimos 100 km a nordeste, rumo à Península Valdés, um paraíso em meio à aridez da região, onde os personagens principais são as numerosas espécies de aves e mamíferos marinhos, dentre os quais podem observar-se lobos e elefantes marinhos, pinguins, orças e baleias francas austrais.

Declarada Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO em 1999, a Península inclui em sua área de 4.000 km² uma série de baías, golfos, falésias, penhascos, enseadas e praias de cintilantes mares azuis-turquesa. Em meio à sua vegetação rala e espinhosa, típica de climas desérticos, desfilam guanacos, raposas, coelhos selvagens, tatus, emas e tantos outros animais terrestres.

Não foi apenas a diversidade faunística que nos impressionou: o grande charme da península, que atrai além de turistas, biólogos, cinegrafistas e fotógrafos do mundo inteiro, é a possibilidade de observar os animais a apenas poucos metros de distância – especialmente as baleias, a maior atração, que infelizmente não pudemos desfrutar, pois estava no final de sua temporada. É importante ressaltar que nem todos os animais estão presentes durante todo o ano*, o que ocasionalmente pode decepcionar viajantes mais desavisados.

Testemunhar todos esses animais – muitos ameaçados de extinção – vivendo livremente em seu habitat natural de paisagem bucólica e, ao mesmo tempo, radiante, nos deixou extasiados, como se tivéssemos entrado em um documentário do Discovery Channel. Ficamos constantemente sem fala e sem ar, tomados por uma emoção inesquecível.

No último dia, para me despedir do litoral patagônico, passei a tarde relaxando na praia de Puerto Madryn, já lembrando com saudades de todas as experiências que vivi neste incrível destino. Me sinto privilegiada por ter tido a oportunidade de estar tão perto da natureza em seu mais isolado estado. É algo que você jamais esquece.

Leia aqui mais relatos de viagem para outras regiões da Patagônia.

Quer conhecer a Patagônia?

Separamos em nosso site alguns pacotes com os roteiros mais requisitados para a Patagônia. Confira aqui. Também podemos montar para você um roteiro personalizado, totalmente de acordo com os seus interesses e expectativas. Entre em contato com um de nossos consultores de viagem.