Acontece – Deserto de Atacama se enche de flores na primavera

novembro 18, 2011 in Acontece, Todos os Posts

Saiu na Folha:

 

Mulher tira fotos em carpete de flores no Atacama - Fonte: www.telegraph.co.uk

 

Considerado o mais árido do planeta, o deserto de Atacama, no norte do Chile, é invadido nessa época do ano pelo colorido das flores, apresentando uma paisagem espetacular e inesperada.

Os flancos de uma montanha, com o cume escondido pela névoa, parecem a princípio cobertos de neve. Na realidade, é um impressionnante tapete de flores brancas que se estendem a perder de vista. Na medida em que se avança, o branco passa ao amarelo, depois ao azul, ao vermelho, ao laranja.

O caminho que leva ao parque Llanos de Challe, nas portas do deserto de Atacama, a 600 km de Santiago, está cheio de cores. Por todos os lugares, as flores emergem da areia, invadem os cáctus, penduram-se nas rochas.

Os mecanismos que tornam o “deserto florido” são quase desconhecidos. Sabe-se que El Niño, o fenômeno climático que varre o litoral do Pacífico da América do Sul a cada 6 ou 7 anos, traz as chuvas necessárias para a germinação de bulbos e rizomas, que podem permanecer latentes durante décadas.

“É um ano excepcional, choveu mais de 50 milímetros. As flores começam a crescer a partir de 15 mm por ano, mas neste ano todas as espécies brotaram”, explica Carla Louit, diretora do parque.

Flores cobrem parte do parque nacional Llanos de Challe, na entrada do deserto de Atacama, no Chile

O volume das chuvas é importante, mas não é tudo. É preciso ainda que aconteçam em intervalos regulares, nem muito fortes nem muito esparsas, e que as geadas não venham a interromper a germinação durante o inverno austral.

Se essas condições forem reunidas, o deserto florido pode durar de setembro a dezembro.

“A última vez que houve tantas flores foi em 1989. A partir daí houve algumas floradas, mas não como a de agora”, maravilha-se o padre Lucio, sacerdote de uma aldeia vizinha e botânico amador.

O parque nacional foi criado em 1994 para proteger esse ecossistema da intensa atividade mineira na região.

“Temos mais de 200 espécies de flores endêmicas, que não crescem em nenhum outro lugar do mundo, entre elas 14 em risco de extinção”, explica Yohan, um guarda do parque, que lamenta as práticas de alguns visitantes.

“Há gente que arranca as plantas para levar para casa mas, evidentemente, elas não vão crescer lá. E quando se arranca um bulbo, ele está perdido para o deserto”.

Isso ameaça os mais raros, como o da emblemática ‘Garra de Leão’ (Leontochir Ovallei), uma grande flor vermelha que faz lembrar o rododendro, e que marca o apogeu do “deserto florido”.

'Garra de Leão' (Leontochir Ovallei)

Flores no deserto de Atacama; entre as mais de 200 espécies de flores do deserto, 14 correm risco de extinção

“Ela é a última a dar flores porque seus bulbos são enterrados muito profundamente, por isso é preciso muita água para fazê-la sair”, explica o padre Lucio.

Faltam os meios para a vigilância do parque – atualmente são “cinco guardas em turnos para mais de 45 mil hectares”, comenta Louit. Segundo ela, o parque trabalha com a sensibilização dos visitantes logo na entrada, e realiza sessões de educação ambiental para grupos estudantis.

Mas o deserto florido ainda é desconhecido.

“Existem poucos estudos completos sobre ele”, explica. “Não há recursos disponíveis para estudar um fenômeno tão esporádico”.

Além disso, há poucos meios para promover o turismo. Este ano, apenas 1.200 chilenos e 64 turistas estrangeiros visitaram o parque.

“Como a floração pode se antecipar meses antes, é difícil ter os turistas estrangeiros como alvo”, lamenta Louit.

Você encontra a matéria na íntegra no link: http://www1.folha.uol.com.br/turismo/1003765-deserto-de-atacama-se-enche-de-flores-na-primavera.shtml